sábado, 9 de janeiro de 2010

24.ª «TURISMO, (…E NÃO SÓ…), ATENÇÃO À TUNÍSIA!», JOFFRE JUSTINO SCRIΨIT

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Regressei de umas férias na Tunísia e achei que era útil reflectir convosco sobre esta minha experiencia tunisina, em especial porque a problemática do Turismo é parte importante da minha vida profissional, na EPAR, Escola Profissional Almirante Reis.

A actividade turística representa cerca de 10% do PIB em Portugal, pelo menos e países como a Tunísia deveriam ser atentamente estudadas por quem entende a importância de aprendermos com os concorrentes, por forma a melhorarmos as nossas prestações junto dos Turistas, nossos clientes.

Eis porque me pareceu ser importante reflectir sobre estes sete dias “tunisinos” que tive…

A Tunísia, país islâmico, para 90% da sua população, recebia em 2005 cerca de 6 milhões e 378 mil Turistas e recebeu em 2009 até Novembro 6 milhões e 495 mil Turistas, o que permite ao Governo tunisino pensar que terminará o ano de 2009, um ano de Crise Mundial e de recessão no Turismo Mundial, com perto de 6 milhões e 800 mil Turistas ficando acima de 2007 e bem perto dos valores de 2008, os mais elevados de 2005 a 2009.

Entretanto, a Tunísia surge como alternativa turística aos países mediterrânicos e sul atlânticos, como Portugal e, como se vê, pelo seu crescimento na actividade turística, mostra que tem potencial para o ser. De facto, a Tunísia surge como um país de Turismo de Sol e Praia, como um país com fortes tradições, com um Património, Material e Imaterial, bastante rico.

Tal qual Portugal.

Por ora, a Tunísia apresenta-se, no plano da actividade Turística, enquanto um país com 11/12 meses de sol e praia, contra os 6 de Portugal, enquanto um país de Turismo barato, bastante mais que Portugal diga-se, com meios de mobilidade de qualidade aceitável, com produtos hoteleiros de qualidade, em média, superior à portuguesa, e com um potencial no Turismo de Compras que supera o português, pelo gozo que dá o negociar com os tunisinos, bons e delicados comerciantes.

Os vinhos tunisinos são mais fracos que os portugueses, mas também bastante mais baratos, a comida tunisina não é tão rica quanto a portuguesa mas é bastante aceitável e no plano da chamada cozinha internacional, de hotel, não perdem face aos cozinheiros portugueses.

A riqueza do Património Construído tunisino é significativa, relevando bem as presenças de múltiplos povos, fenícios, romanos, turco-otomanos, e está preservado, tanto ou melhor que o Património Construído em Portugal.

No plano da segurança dos Turistas em nada a Tunísia está longe de Portugal a não ser em um aspecto – o carácter islâmico do país, permeável portanto para as mentalidades dos países dominantes no envio de Turistas para outros países, ao temor de ataques terroristas…

No entanto é bem visível a liberalidade islâmica na Tunísia – por entre as inúmeras voltas que dei entre Cartago e Monastir, diria que 90% das Jovens Tunisinas não usa qualquer véu a esconder os seus lindos cabelos, e que cerca de metade das Adultas também não tapa os seus cabelos nas suas actividades nas ruas, sinal de grande distensão religiosa neste país. Ainda que seja verdade que nos cafés e restaurantes e há muitos, só em duas situações vi nos mesmos uma mulher, sendo que em uma delas a mesma se encontrava, somente, de pé, à porta.

Nos Hotéis, quer naquele onde estive quer tendo em conta as descrições de outros turistas portugueses sobre os seus Hotéis, a existência de Animadores, de qualidade, torna a presença nos mesmos num enorme prazer.

De facto, os Animadores lidam com Crianças e com Adultos, em 4 línguas europeias, dançam e animam as noites tal qual animam actividades desportivas nos espaços de lazer e são sem, dúvida um especial vantagem competitiva da Hotelaria Tunisina, face à portuguesa, basicamente falha neste campo.

Diria que não há um Hotel de 4 estrelas e mais que não tenha consigo uma equipa de Animadores de boa qualidade.

Os empregados de Bar e Restaurante falam relativamente bem pelo menos 2 línguas europeias e são de um profissionalismo a toda a prova.

Os taxistas são simpáticos, falam bem o francês, compreendem o espanhol e o inglês, pelo menos, bem ao contrário dos taxistas portugueses e têm em geral noções bem maiores que os taxistas portugueses sobre a sua História e o seu Património.

Nos espaços museológicos que visitei senti no entanto as mesmas falhas dos espaços portugueses, sendo que o acompanhamento dos Turistas está entregue a tunisinos que não me pareceu estarem qualificados para estas funções, nem serem autênticos profissionais mas sim aparentam ser “aproveitas” de uma área de negócio em aberto.

Visivelmente apostam, como Portugal, no Turismo de Golfe e no Turismo de Eventos.

Diria pois que Portugal tem na Tunísia um importante Concorrente, tendendo, a prazo a ter, aí, também, um Mercado para a Promoção Turística, desde que se entenda, em Portugal, as afinidades existentes no espaço mediterrânico e sul atlântico e, daí, as Oportunidades Turísticas geradas e por explorar.

Desde que em Portugal os empreendedores turísticos entendam que não é possível manter um Mercado, de cariz europeu, (com salários mais próximos dos europeus que os 150 euros/mês para um Animador, ou os 100 euros/mês para um profissional de bar e Restaurante), sem que se tenha em conta a diferenciação que actividades de Animação geram, nas unidades hoteleiras e nas ruas, ou que actividades de proximidade com os Produtos centrados no Património Material e Imaterial podem gerar dando ao Turismo Português, centrado num espaço com mais de 8 séculos de História, com a presença visível, ou lendária, de fenícios, romanos, judeus, “árabes”, negros, índios, asiáticos, ingleses, franceses, (dos Cruzados aos ocupantes das Invasões Francesas e Inglesas do século XIX), etc.

Fiquei, note-se, bastante satisfeito com a oportunidade que a classe politica nos dá, em Portugal, de estabilidade, ao aceitar negociar, pelo menos PSD e PS, este próximo Orçamento de Estado, elemento central de combate à crise vivida, sendo certo que preferia que toda ela aceitasse a importância de um Governo de Salvação Nacional, ou, se preferirem, de Concertação Nacional, para superar esta mesma Crise.

No entanto, bem mais satisfeito ficaria se esta nova abertura potenciasse novos diálogos entre os Parceiros Sociais, em nome da estabilidade no Emprego e nos Rendimentos das Famílias, como na Inovação e desenvolvimento do Empreendedorismo, com o surgimento de soluções temporárias agregadoras de vontades nacional comunitárias dinâmicas capazes de elevar a competitividade em Portugal e no espaço de expressão portuguesa.

O que implica em apostas mais sérias, do Estado, mas também dos Empresários e dos Trabalhadores na Qualificação, Escolar e Profissional, como em apostas mais sérias na abertura efectiva e no incentivo à economia do 3º sector, social, para além do apoio aos lobbies tradicionais, com politicas também tradicionais, neste mesmo 3º sector.

Ora, no Turismo, o 3º sector deveria ter um papel que não está a ter, de agregação de Pessoas capazes de desenvolverem dinâmicas que permitam o aproveitamento do potencial de grupos de Jovens, saídos de Cursos de Teatro, de Musica, de História, de Animação, de Turismo.

Tal, apoiados pelas Câmaras Municipais, pelas Juntas de Freguesia, em parceria com as associações de hoteleiros, permitiriam actividades de Animação de rua, e mesmo, de forma negociada, de Hotéis, gerando actividades empreendedoras com fortes características inovadoras.

É certo que existem elementos histórico turísticos que exigem investimentos de maior monta – assim, em Sousse, vi não uma, nem duas, mas cinco caravelas, lindamente decoradas, prontas para passeios/animações no mar, enquanto que em Lisboa por exemplo conheço uma manhosa caravela montada para a Expo98, para o maior estuário da Europa!

Não mudemos não esta mentalidade e espantemo-nos com o crescimento Tunisino e o decrescimento português….

Joffre Justino

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